Me afastando do smartphone

Nos últimos dias de 2023 tomei uma decisão importante: eu iria, de uma vez por todas, abandonar o Twitter. Esta era a última rede social da qual eu fazia parte e minha janela para com o mundo dos feeds e timelines seria por fim fechada. Dito e feito. Desativei minha conta e desinstalei o aplicativo.

Sempre fui mais espectador do que participante naquela terra árida, mas mesmo assim perdia horas e horas com os olhos colados nos tuítes em suas diversas formas. Não foi tudo negativo. Aprendi muita coisa sobre o mundo e sobre mim mesmo naquele espaço, mas cada vez mais o sentimento que me dominava a encarar a tela do meu celular era o de angústia e vazio. Como a grande maioria das redes sociais, o Twitter (principalmente agora sob nova direção) é construído de tal forma que traz o pior de cada um a tona. Brigas, toxicidade, desinformação e miséria permeiam todo e qualquer quilobyte transmitido para os meus globos oculares. Eu me sentia horrível o tempo todo, mas ainda sim voltava para aquele buraco.

Já chega, por favor.

Falei em “O poder da caneta e do papel” sobre meu desejo de engajar com a tecnologia de forma simplista e deliberada, e comecei a aplicar este conceito ao smartphone. Me sinto cada vez mais atraído a dispositivos que são bons em uma coisa só, em vez de serem medíocres em muitas coisas ao mesmo tempo, e não faz sentido passar tanto tempo encarando o celular – muito menos tê-lo como minha fonte principal de conexão com o mundo.

Ao decorrer dos últimos meses venho encontrando harmonia em não estar super-conectado o tempo todo e grande parte disto se dá por conta do meu novo relacionamento com meu celular. Muitos aplicativos desnecessários foram excluídos e as horas passadas encarando este mini-computador pernicioso foram cortadas pela metade.

Aplicativos

Presentemente, esta é a lista de aplicativos instalados no meu smartphone:

App Função FOSS?
Aegis Authenticator Gerenciador de 2FA Sim
App do banco Transações bancárias Não
Bitwarden Gerenciador de senhas Sim
Droid-ify Cliente do F-Droid Sim
Firefox Beta Navegador da internet Sim
Fossify Calendar Calendário Sim
Fossify Gallery Galeria de imagens Sim
K-9 Mail Email Sim
Material Files Gerenciador de arquivos Sim
Olauncher Launcher minimalista Sim
Read You Leitor de RSS Sim
RxDroid Lembrete de medicações Sim
WhatsApp App de mensagens Não
Xtra Cliente do Twitch Sim

Além desses, também uso alguns dos apps que vieram instalados de fábrica (calculadora, contatos, câmera, mensagens, relógio, telefone).

Música

Uma captura de tela do programa ncmpcpp tocando In Rainbows do Radiohead

Continuando na linha de dispositivos de uso específico, resolvi abandonar os serviços de streaming e comprei um iPod 5.5 usado em ótimo estado. Substituí a bateria e troquei o HD por um SSD. Enchi essa belezinha de músicas e mantenho também minha biblioteca em um SSD externo que reutilizei após trocar o armazenamento do meu notebook. Agora sempre que vou me exercitar, deixo o celular em casa e levo meu novo parceiro no bolso.

No computador uso a combinação do mpd e do ncmpcpp que são ambos programas de linha de comando, então é super fácil de configurar e integrar com meu sistema existente.

Essa possibilidade de fugir dos algoritmos e plataformas que exploram tanto artistas quanto usuários me agrada demais. Além disso, criar minha própria biblioteca de música e brincar com um dispositivo que tem quase duas décadas de idade é muito divertido.

Mas e o minimalismo?

Como conciliar a ideia de “minimalismo digital” com o uso de mais dispositivos?

Sinceramente, não faço ideia.

Não sei se aumentar o número de dispositivos que eu utilizo é uma grave ofensa ao conceito do minimalismo digital, mas pra mim está funcionando muito bem. Acho que no final das contas isso é a única coisa que importa, e não bobagens puritânicas e o caramba a quatro.

A grande razão pela qual decidi me afastar do smartphone não foi para aderir a dogmas, mas sim para me sentir melhor comigo mesmo e ter maior entendimento do meu relacionamento com a tecnologia, principalmente sendo alguém que é velho o bastante para ter vivido num mundo sem smartphones, mas jovem o bastante para ter interagido com eles desde bem novo.

Minha jornada ainda está no começo, mas acho que estou andando em um caminho que não tem volta. Não me vejo retornando a ser alguém que tem 6 horas diárias de uso do celular. Se não fosse pelo aplicativo do banco e a necessidade de usar o WhatsApp pra conversar com a família, acho que eu compraria um Nokia antigão agora mesmo.

Mas não se preocupe, sou vaidoso demais para virar homem das cavernas.