De tanque vazio

Aviso de conteúdo: discussões explícitas sobre suicídio


Às vezes eu sou dominado por um sentimento de perda de controle.


A frase acima era a única coisa que eu havia digitado no rascunho desta postagem, no dia 15 de novembro. No dia seguinte eu tentei tirar minha própria vida. É quase cômico ler e relê-la, essa dúzia de palavras que descreve tão bem o meu estado naquela noite.

Me lembro muito pouco do que aconteceu entre a manhã do dia 16 e a madrugada do dia 17, e o pouco que lembro anotei numa caderneta antes que me escapasse da cabeça. Esse buraco na minha memória vai existir para sempre e não há nada que eu possa fazer para recuperar os momentos perdidos; acho que isso vai me incomodar por um bom tempo.

Desde então venho fazendo psicoterapia, passando com um psiquiatra, sendo medicado e observado. Entendo a preocupação dos que estão ao meu redor – esta é minha segunda tentativa, já conheço as regras do jogo – mas acabo me sentindo infantilizado e sufocado. Não ter autonomia para me locomover ou até mesmo tomar meus remédios por conta própria acabam aumentando essa sensação de inutilidade que me corrói os neurônios.

Durante uma consulta no CAPS, a psicóloga que me atendeu disse que ao que parece muito do meu sofrimento é causado pelo mundo, pelo preconceito e desigualdade a que sou exposto. Ter essa verdade dita por outra pessoa foi reafirmador mas também me abalou de tal forma que tive uma crise de choro no trabalho no dia seguinte e não consegui terminar meu turno. Fui e ainda sou tomado por um sentimento de desilusão, afinal como lidar com um problema tão maior que minha própria existência?

Tenho muitas poucas respostas nesse momento e não sei quando conseguirei chegar em uma fase da minha vida em que as coisas fazem o mínimo sentido. Vejo os dias passar mas mal me sinto presente em meu próprio corpo. Sou uma máquina de ansiedade e angústia. Espero que um dia isso passe, que essa ferida no meu peito pare de sangrar e que meu cérebro pare de pensar mil pensamentos por segundo.

Venho tendo vários sonhos em que enlouqueço completamente. Nunca lembro os detalhes mas a sensação em si é inesquecível. Engraçado, não é? Até no onírico eu sou dominado por um sentimento de perda de controle.